Correntinhas
Vinte mulheres da roça,
Iguais Cinderelas do mato,
Saíram três dias de casa
Para aprender a bordar.
A moça que lhes ensinava
Vinha de Minas Gerais;
Trazia sua arte, seus dotes,
Sabia dizer e cantar.
Três dias de sonho viveram,
As vinte mulheres da roça.
Bordados bonitos fizeram,
Pontinhos de luz pelo ar.
Os dias passaram ligeiro,
Ponto à frente, ponto atrás,
Correntinhas se emendaram,
E conseguiram acabar:
Vinte quadrados de pano,
Vinte sonhos no bordado,
Agulhas girando, girando,
Sempre no mesmo lugar.
Se a vida delas mudou,
É difícil de dizer,
Pois a história acabou
E elas voltaram a viver;
As lidas do dia a dia,
O marido pra cuidar,
As vacas que davam cria,
A cozinha pra arrumar.
Mas uma coisa ficou,
Os pontinhos pra bordar.
E mesmo que tudo acabou,
Valeu a pena sonhar...
Grota do Junco, 17 de Junho de 2007