o livro

Olhar de rapina


A raposa espreita no fundo do pasto,
Reluzem os olhos, sutis, cobiçosos.

A busca da presa é lenta, precisa.
A fome que a move não é de comida,
É o orgasmo da caça, o gosto do bote.

Assim que a ave está presa nos dentes,
Já perde a raposa aquele seu ímpeto.
Se enjoa da caça, já sonha de novo
Com mais galinheiros, aves nos ninhos,
Pintinhos, patinhos, galinhas de angola.

Ah, que mundo tão cheio de coisas gostosas,
Não dá pra caçar assim de uma vez.

Na fila esperam as presas felizes,
Fixando os olhos no olhar de rapina,
Sem chances de escape, adeus liberdade.

Espreita a raposa, prepara seu bote:
Mais uma vez
Mais uma vez
Mais uma vez...

Grota do Junco, Julho de 2006